segunda-feira, 24 de maio de 2010

Dante Ramon Ledesma: "Que Meu Canto Sirva Para Alguma Coisa"




Dante Ramon Ledesma nasceu em Rio Cuarto na província de Córdoba, Argentina, naturalizado brasileiro desde 1978 e residindo no bairro Rio Branco, em Canoas-RS, há mais de 31 anos, e admite que não sai da cidade por nada: "Já recebi várias propostas para morar fora do País, mas não pretendo sair de Canoas", declarou em sua entrevista exclusiva concedida à Gazeta de La Stampa, em 2003.


Casado com Norma Beatriz Ledesma, desde 1976, com quem tem um filho, Maximiliano Ledesma, hoje seu parceiro e ritmista, Ledesma retornou para a Argentina, onde permaneceu por dois anos. E quando voltou para Canoas, em 1978, sabia que era para ficar para sempre.


Cantor desde os cinco anos, estudou violão e canto coral dos 12 aos 21 anos, formou-se em Sociologia pela Universidade de Córdoba, antes de ser perseguido politicamente. Jovem integrante da ONG Carismáticos, de origem católica, venceu no famoso Festival de Cosquin, na categoria juvenil, com a canção Memória del Che. No ano de sua naturalização, a ditadura civil-militar argentina perseguiu todos aqueles que militavam na juventude carismática, dando-os como subversivos. Desde então Dante Ramon Ledesma, que começava a aparecer no canto popular argentino, vive em Canoas, no Rio Grande do Sul. Em 1991, no Festival Acordes Cataratas de Foz do Iguaçu, foi finalista com a música A Vitória do Trigo. Hoje, este mesmo tema passa em seis países da Europa como a canção mais representativa para as famílias sem-terra latinoamericanas. Outra, de autoria de Fernando Alves e Alberto Zanatta, América Latina, que invariavelmente toca em todas as suas apresentações, é um brado à consciência crítica e união entre os povos explorados da Latino-América. Ledesma havia abandonado a música, porém depois de cinco anos, em 1983, retoma a carreira, então já morando em Canoas-RS, de músico solista. E, em 1984, participa pela primeira vez da 5ª Tertúlia, de Santa Maria, com a música Orelhano, sendo considerado a grande revelação do festival. No mesmo ano vence a 14ª Califórnia da Canção, de Uruguaiana, com a música O Grito dos Livres, o que gerou uma polêmica, pois muitos desejavam que fosse proibida a participação de cantores com sotaque em festivais. "Às vezes as pessoas procuram estudar, praticar esportes ou viajar, como fiz em boa parte da minha vida, mas vale o que é mais simples, e aí tu te dá conta que a tua inclinação é pela arte", assim Ledesma revela como a música acabou se tornando o toque principal de sua vida. Revela, ainda, que tinha uma necessidade muito grande de estar integrado a um povo e a um público. "E isso aconteceu quando eu tinha 30 anos de idade. Aí me dei conta que, para fazer música, tinha que ser uma coisa séria, altamente coerente com aquilo que se faz e se diz".
Dante Ramon Ledesma ensina que o cantor não pode ser reversível a propostas de gravadoras e críticas: "Na música e na literatura quanto mais sejas tu, mas perto de ser músico ou escritor se está". Por outro, Ledesma define sua música como folclórica universal e nega que ela seja de protesto, como muitos pensam: "Muitos tentaram usar minha música por acharem que ela é de protesto, mas eu não acho", explica. Mas há que ser consciente nesse momento, e classificar a música e a atuação do cantor-músico Dante Ramon Ledesma como uma forma e uma performance de conscientização. E ele explica mais: "É uma grande mentira pensar que há música de direita ou de esquerda, porque o pentagrama e as notas musicais são universais para todo o mundo".


Já com dez anos de carreira gravou seu primeiro LP (long play) no palco do Castelinho, música que recebeu de presente de um amigo, que foi muito mais do que um abraço, a música Orelhano, esta presenteada pelo amigo Mário Eléu da Silva. Depois, um amigo do Alegrete, radiacado em Porto Alegre, lhe sugeriu: "quem sabe gravamos Orelhano num LP", E Ledesma, refletindo, concordou: "porque sabíamos que em dois ou três segundos havia uma vida na frente e uma responsabilidade de cantar". Ao gravar Negro da Gaita conheceu um "grande colega e um extraordinário cantor. Muitas vezes ninguém nota, mas eu choro no palco muitas vezes. Nesta noite em que me passou a letra dessa música e mais uma outra eu disse: sei porque ele faz tremer nos festivais com sua humildade e com sua gentileza, e a ele quero lhe dedicar essas músicas".


Ledesma arriscou tudo: vendeu o carro, juntou dinheiro e foi gravar seu primeiro disco, independente. Assim, trocou tudo, a sociologia e a psicologia, pela música. E com o disco "Orelhano", gravado em 1984, conquistou o seu primeiro Disco de Ouro, com mais de 190 mil cópias vendidas, este foi o primeiro disco produzido e gravado independente a ganhar tal distinção. "No começo, disse Danta Ramon Ledesma em entrevista exclusiva à Gazeta de La Stampa, ninguém acreditava, mas eu acreditei e ainda acredito muito". E assim, acbou se tornando conhecido não só no Brasil, mas em toda a América Latina, e hoje seus discos são editados em 18 países. E seu mais famoso e retumbante show A La Paz e a Quien Lucha Por Ella foi realizado mais de 1.400 vezes no Brasil e em mais quatro países latinos, a partir de 1984, sendo que mais de 300 deles com caráter beneficente.


Dos vários músicos e poetas que admira, Dante diz que só tem um grande inspirador: Rudecindo Ledesma, seu pai. E justifica, não conseguindo esconder a emoção ao falar no seu pai: "Ele viveu na época revolucionária, foi muito amigo de Ernesto "Che" Guevara, e é uma pessoa simples e objetiva. E muitas vezes discutimos coisas como os menino de rua do Brasil". E complementa: "Meu pai acha possível que um dia não existam mais crianças nas ruas. Ele diz que se tu colocar na tua luta que vai brigar por isso também, então é possível". E revela, ainda, que seu pai sempre foi muito positivo, que nunca acreditou no fracasso e, assim, seu lema sempre foi: "Enquanto você está de pé é possível".


Além de seu pai Rudecindo, que lhe inspirou a escrever, outros dois homens que admira, e tem algumas idéias como base, são Ghandi e "Che" Guevara. E como filosofia de vida Ledesma diz que "temos que ter certeza de algo. Que se cantamos deve ser por alguma coisa, se escrevemos dever ser por isso. Assim, deve-se ter uma meta, porque ninguém que luta vai descobrir nada sem existir uma meta", ensina, enquanto diz que a sua meta é que seu canto fizesse parte da realidade popular, ao menos no Rio Grande do Sul. E um dos projetos que sempre alimentou é poder cantar nas praças, gratuitamente, para todo o Estado e em todas as cidades e vilas. Então, que sirva seu canto para alguma coisa como é a sua proposta de vida.


Na sua carreira artística, já constam 19 discos gravados, entre LPs (vinil) e CDs (digital) e 3 DVDs. Em seu currículum profissional consta a conquista de nove discos de ouro e mais de três milhões e meio de cópias de discos vendidas. Sua biografia registra que, em mais de 30 anos de carreira, mais de sete mil espectáculos foram realizados em todo o Brasil e América Latina.


DISCOGRAFIA: A Vitória do Trigo - América Latina - Años - Baile da Minha Terra - Bibiana Sem Terra - Canción de Las Simples Cosas - Com Meu Sul - De Corazon - De Sexta-feira e Paixão - Desgarrados - Grito dos Livres - Guri - Has Amado Una Mujer Deveras - Indio do Uruguai - Lago Verde Azul - Lembranças - Negro da Gaita - O Último Beijo - Orelhano - Os Pássaros - Para um Regresso - Pealo de Sangue - Pensando Longe - Pra Não Dizer.Que Não Falei das Flores - Romance na Tafona - Sonhos na Calçada - Última lembrança - Um pito.



Dante Ramon Ledesma com o filho Maximiliano Ledesma no ritmo.
*** Para ampliar as fotos basta um CLICK sobre as mesmas.
*** Contatos via e-mail: la-stampa@ig.com.br

5 comentários:

  1. Muito interessante a postagem. Fico feliz de ter contato com parte de sua obra. Gostaria de saber o endereço eletrônico do Ledesma. Perciso pedir permissão para fazer alguns trabalhos com sua melodias. Sou professor de História no Estado de Mato Grosso.
    Como devo proceder?

    Meu E-Mail araujoluiz_3@hotmail.com

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  2. Muito bom mesmoo
    Nota 100000000

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  3. Curti muito esse tempo!!
    Mas não vi nada sobre "OS AVENTUREIROS" Banda formada por : Renato, Ricardo, Mauri, Marcio e Totonho..Eles tocaram várias vezes no "Canoense", meu clube favorito daquela época. Será que tens alguma coisa? Adoraria ver!
    Obrigada e parabéns pelo trabalho..muito legal!

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    1. Pois é, seria muito interessante ter algum material sobre "Os Aventureiros", pois estou concluindo o livro "No Tempo da Cuba-Libre", que espero publicar ainda este ano, mas não tenho nenhum material sobre esse grupo. Se tiveres algum nome, de preferência completo, pode ser que eu consiga com os músicos que estão colaborando com material, histórias e fotos, além de discos e músicas. Para contato mais direto aí vai meu e-mail: la-stampa@ig.com.br
      Xico Júnior - Fone: 3472-6666 - Canoas-RS.

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