quarta-feira, 17 de março de 2010

Sayfers e Apache: Canoas foi celeiro de excelentes músicos e grupos musicais do RS.

LEGENDA - Harvey Azambuja fundador do Conjunto The Sayferes, um dos melhores e mais requisitados pelos clubes na época. A foto, pouco nítida, foi extraída, e ampliada, da Turma da 2ª Série Ginasial do Externato São Luiz (hoje Colégio La Salle), em 1958.

Pois, nesse mesmo tempo dos anos diamantinos Canoas passava a ser uma espécie de celeiro de excelentes músicos e grupos musicais para o Rio Grande do Sul. Ainda mais se comparada a população de Canoas naquela década com a de Porto Alegre, por exemplo.



"Apache" e "Cláudio e Os Goldfingers"

E assim surgiram o Conjunto Apache, fundado nos anos sessenta pelo excelente guitarrista João Mello, que faleceu há poucos anos em Santa Catarina, onde estava residindo, e que foi o primeiro a se apresentar com sua "guitarra havaiana" (o pioneiro a introduzir tal instrumento entre os grupos musicais gaúchos) e com a qual imitava "locutor de futebol", "choro de criança" e outras mais. Lamentável não termos conseguido resgatar maiores informações sobre o Conjunto Apache, o próprio João Mello, o baterista Renato André (Foguinho) Tups (também ex-colega de colégio no Externato São Luiz) e demais músicos. Com o fim do Apache, o pianista e acordeonista Cláudio Alves de Souza, cria o grupo Cláudio e Os Goldfingers, que em 1967, a convite da gravadora Chantecler, grava um LP (Long Play em vinil). Cláudio Alves de Souza iniciou na gravadora Chantecler como organista-arranjador do Trio Montecarlo, com o qual realizou a gravação de quatro LPs. O disco (LP vinil) de Cláudio e Os Goldfingers, contém a seguinte seleção musical - Lado 1: Acorda, Maria Bonira - O Homem Verde (composição de Cláudio A. de Souza) - Era Um Garoto Que Como Eu Amava Os Beatles e Os Rollings Stones - Ciao Amore, Ciao - Não Crie Caso (composição de Renato André Tups) - Sem Ti (de Cláudio A. de Souza). Lado 2: Falso Amor (de Cláudio A. de Souza) - Cuore Matto - There´s A King Of Hush - Something Stupid - Goldfinger e Meu Grito.

Conforme relatos do baterista Renato André Tups, o primeiro conjunto musical a se apresentar com show de "luz negra" foi o Apache, em 1964, durante apresentação na primeira sede social (ainda de madeira) do extinto Grêmio Esportivo Niterói, de Canoas. O projeto foi uma criação do Leopoldino Mattos, ou "velho" Mattos como muitos o chamavam, que também havia instalado o Cinema Central, este o primeiro de Canoas. E para dar o efeito da "luz negra", o cantor Ruy Andrade pintou as unhas, assim como a bateria de Renato Tups, a guitarra e o contrabaixo, tudo com tinta fosforescente para conseguir o inédito, surpreendente e espetacular efeito. O impacto das luzes comoveu o público que lotava o salão "velho" do "Clube Grená". Pois, a invenção da geringonça do "velho" Mattos acabou se tornando uma coqueluche tanto entre os conjuntos, como tempos depois, pelos clubes com a introdução da "luz estraboscópica", cuja tinha o mesmo efeito, porém nas roupas, jóias, bijouterias, relógios e até nos olhos dos dançarinos.

Outro feito que marcou a trajetória do Conjunto Apache foi animar o primeiro baile "Noite no Hawaii", que passou a ser promovido pelo Cssgapa - Cassino dos Sargentos e Sub-Oficiais da Aeronáutica, que funciona ainda hoje junto à Base Aérea de Canoas, evento que se tornou uma coqueluche nos anos 60 e 70, quando a diretoria do Cassino colocava, gratuitamente, à disposição dos associados e simpatizantes ônibus "papa-fila" do centro de Canoas até o Cssgapa. Mais um evento social que registrou recorde de público, e teve animação do Conjunto Apache, e se tornou num marcante acontecimento, em 1964, foi o baile em homenagem à Ieda Maria Vargas, que havia conquistado o cetro, a faixa e coroa de Miss Universo 1963, realizado no ginásio do Cssgapa, que funcionava também como salão social, com palco, pista de dança e mesaninos em formato de "U". O Conjunto Apache, sem dúvidas, um dos mais bem conceituados e requisitados do Estado, tocava no estilo - uma espécie de carbono - do grupo norte-americano  "The Venture", cujos discos, ainda em vinil, eram trazidos dos Estados Unidos, assim que lançados, por um amigo do diretor e guitarrista do Apache, João Mello, enquanto sua característica musical era a música "The House Of The Rising Sun" (A Casa do Sol Nascente), interpretada pelo crooner Ruy Andrade.

Nem mesmo uma foto, por enquanto, foi possível, apesar de todos os esforços e pesquisas feitas ... mas não encerradas. Tanto que o baterista Foguinho, ainda em plena atividade e morando em Canoas, me assegurou passar muitas informações e fotos, além de ter-me lembrado que o Sayfers, tempos depois trocou o nome para Conjunto Samuara.

1967 - Sai o LP (em vinil) de Cláudio e Os Goldfingers, pelo selo Chantecler, grupo que substituiu o Conjunto Apache. Na foto a composição do grupo: o pianista, organista, acordionista e arranjador Cláudio Alves de Souza, o guitarra-solista Darney Lampert, o contrabaixista Clóvis Freire, o baterista Renato André Tups e o guitarrista e crooner Ruy Anderson Andrade.

Este LP "Cláudio e os Goldfinger", em sites de vendas de raridades, está cotado (abril/2010) em nada menos do que 361 Euros.

Nasce novo grupo: Conjunto Sayfers

Pouco tempo depois surgia o Conjunto Sayfers (nada a haver com alguma palavra em inglês, apenas a junção de letras dos nomes do componentes), iniciativa e direção de Harvey Azambuja, que foi meu colega no curso primário e no ginasial do então Externato São Luiz (hoje Colégio La Salle), além de companheiro de peladas e de radiofonia. Esclareço: Íamos, meus irmãos e eu à casa dos Azambuja, na Rua Monte Castelo (saíamos a pé da rua Frederico Guilherme Ludwig, do outro lado da cidade) para as tais peladas. Num belo dia o Harvey, o mais velho de dois filhos, estava implantando um rádio-galena, composto de vários circuítos e bobina de antena, que era ligada a uma cerca de arame farpado, o que possibilitava a sintonia de alguns canais. Assim, instalamos a "nossa rádio". Era o tempo em que a Rádio Farroupilha, que foi criada em 1935, com prefixo PRH-2 e potência, única no Brasil, de 25 quilowatts, apresentava suas radionovelas ou novela radiofonizadas a partir das primeiras horas da tarde. Tinha a maior audiência em todo o Rio Grande do Sul, tanto pelo sucesso das radionovelas como pelo elenco de atores e atrizes e cantores e orquestra, todos contratados com exclusividade. Assim, conseguimos, por sorte, sobrepor a nossa improvisada rádio-galena, que tinha uma potência com alcance de cerca de um quilômetro em circunferência, à posição ocupada, no dial, pela Farroupilha. A grande audiência, naquele horário, era de mulheres que, enquanto cumpriam com os afazeres da casa, escutavam as novelas radiofonizadas, que tinha entre os galãs o saudoso Ernâni Behs. Cientes disso, e usando um microfone e um toca-disco portátil que acomplávamos à rádio e discos LPs (bolachões de vinil), o Harvey, impostando sua voz como se um locutor real, anunciava: "Pedimos desculpas às nossas ouvintes, pois por motivos de força maior deixaremos de apresentar o capítulo de hoje da novela "O Direito de Nascer" (1964), e assim passaremos a rodas músicas variadas".

As mulheres, todas, começaram a reclamar a coincidência de todos os dias a Rádio Farroupilha apresentar "problemas" exatamente no horário da novela. Na rua Monte Castelo e redondeza, era uma "grita" só. E essa reação foi se espalhando, acredito, até que alguém comunicou a polçícia sobre o fato de algo estranho estar antecendo apenas numa área de raio delimitado. E assim se passaram dias e dias e nós nos divertíamos, indo, inclusive, nas casa da proximidade para saber se realmente a "nossa rádio" estava ocupando as ondas da Rádio Farroupilha. Voltávamos para o "studio" (?), que funcionava na garagem, com uma alegria quase indígena para dar a notícia do nosso sucesso. E assim foram dias e dias, até que começou a circular boatos de que a polícia estava por localizar a tal de "rádio-galena". E aí acabamos com a rádio e, obviamente, a brincadeira que, convenhamos, não era de tão bom gosto assim. Malvadeza no duro ... mas era muitíssimo divertido, pois trocávamos de locutores para que todos pudessem sentir uma certa euforia na prática do engodo, da sacanagem, sem falsa modéstia, muito bem bolada.

Na época esse tipo de atitude era considerada crime. Por isso que hoje já dá prá contar, porque a sacanagem, que era ilegal, conforme o Código Penal, "o crime já prescreveu".

Depois dessa, o Harvey Azambuja surpreende com a criação do Conjunto Sayfers, que fez bela carreira, grande sucesso e foi bem aceito pela sociedade gaúcha, pois passaram a animar bailes em muitas cidades do Rio Grande do Sul. De repente, assim como surgiu, o The Sayfers desapareceu como por encanto. A primeira formação do The Sayfers contava com: Homero na bateria, Shibel como guitarrista, Edison Lick Rocha no contra-abixo, Jazão como guitarra-base, Cabral, já falecido, como pistonista, Edilon Azambuja, hoje comerciante de jóias no Gonden Center / Canoas, no saxofone e a direção de Harvey Azambuja, que anos depois se formou Promotor de Justiça. O Sayfers acabou se transformando, depois no Conjunto Samuara e do fim do Sayfers surgiou, também, Cláudio e Os Goldsfingers.  

Nesse mesmo período, também pontificado e dirigido por um músico militar alistado na Aeronáutica, surge o Conjunto Diamante, formado, como era habitual e conveniente à época, com dois instrumentos de sopro: pistão e sax. O "Diamante" não teve a mesma projeção dos co-irmãos, mas fez parte também do rol dos melhores conjuntos do Estado. Com isso, pode-se constatar que a partir dos anos 60, ou os anos diamantinos, Canoas contribuiu sobremaneira com a música de qualidade e, obviamente, com o maior brilho dos eventos e das festas-bailes de Canoas e do Rio Grande do Sul. Podemos afirmar, sem medo de cair no exagero, que Canoas foi o primeiro ou segundo celeiro de excelentes músicos profissionais do Estado, considerando-se a capital Porto Alegre, e, por conseqüência, na formação de conjuntos musicais.
Um dos primeiros integrantes do Sayferes foi o cantor, ou à época chamado de "cronner", Ruy Andade que inicoui no Apache, então apenas um trio vocal: Ruy Andrade (vocal), o fundador e guitarrista João Mello e Padilha no contra-baixo e depois Sheibel na guitarra base.

*** As fotos para serem ampliadas basta UM CLIC sobre as mesmas.
*** Contatos pelo e-mail: la-stampa@ig.com.br

Um comentário:

  1. Olá sou filho do Foguinho Ranzolin, um baterista que tocou nessas duas bandas
    e que ficou emocionado em ver esse blog.
    a título de informação ele não sabia da
    morte do Mello e também deixa dito que
    tem algumas fotos da época.

    deixo meu contato:

    rodrigoruivo1@hotmail.com

    um grande abraço!!!

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